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SOYUZ : Entre as planícies cazaques e o serrado de Sinnamary

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  Baikonur. Século XXI. Sete e meia da manha. O sol vermelho como quando se põe se levantou há uma hora. Remy, um francês, e seus companheiros europeus se aprontam para sair de seu hotel, o Sputnik. A Gazela, o pequeno caminhão encarregado de levá-los ao trabalho, está lá. No caminho, enquanto alguns pensavam na vida e observavam camelos, raposas, cavalos selvagens ou mesmo águias, outros escutavam música ou aprendiam algumas palavras em russo, uma das duas línguas mais faladas em Baikonur juntamente com o cazaque. Na estrada, o micro-ônibus, com capacidade de 8 a 10 pessoas, consegue evitar com precisão o atropelamento de algumas marmotas e Spermophilus citelus (espécie de esquilo), particularmente abundantes neste ambiente desértico.

SOYUZ, UMA LONGA HISTÓRIA

Meia hora mais tarde, após ter cruzado o posto de controle que permite sair da jurisdição da nova cidade de Baikonur, Remy e os outros europeus chegam ao MIK112, ponto de encontro de Soyuz, um dos muitos lançadores de foguetes desenvolvidos pela União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS). Já seus colegas russos, homens e mulheres, chegaram de trem de Baikonur, enclave territorial administrado pela Rússia até 2050. A cidade de Baikonur fica no coração do Cazaquistão e foi arquitetada em torno de um cruzamento ferroviário sobre a linha férrea Moscou-Tachkent. Mas na realidade, a verdadeira cidade de Baikonur se situa a algumas centenas de quilômetros ao nordeste do Cosmódromo de Baikonur, construído em plena Guerra Fria nos anos 50 a fim de constituir uma base de testes para os misseis balísticos intercontinentais (ICBM).

Assim, Soyuz se inscreveu na longa tradição espacial soviética, que tomou um impulso considerável no dia 4 de outubro de 1957 quando a URSS foi a primeira a colocar um satélite artificial em orbita. O Sputnik 1, inicialmente um míssil militar, foi desenvolvido em 1956 pelo engenheiro Sergui Korolev. Foram também os soviéticos que, em 12 de abril de 1961, enviaram o primeiro homem ao espaço, Yuri Gagarin.

A história de Soyuz começa em 1966. Este lançador é uma evolução de Voskhod, uma variação do míssil balístico intercontinental Semiorka. A versão inicial de Soyuz comporta três andares. Sua massa na decolagem e de 308 toneladas e sua altura de 50,67 metros. Ele possibilitou o lançamento de veículos espaciais habitados e satélites militares. Em seguida, diferentes versões foram desenvolvidas e Soyuz é hoje considerado um dos lançadores mais confiáveis com nada menos de 1.800 lançamentos e um índice de êxito se aproximando de 98%. Mesmo se hoje, ele permite o abastecimento da Estação espacial internacional e a colocação em orbita dos satélites comerciais, o seu objetivo inicial de enviar um astronauta soviético para a Lua, até o momento não foi alcançado. Mas no final de fevereiro de 2011, quando o lançamento do ônibus espacial Endeavour anunciar a aposentadoria dos ônibus espaciais americanos, Soyuz será o único lançador disponível para enviar os astronautas para a Estação Espacial Internacional (I’ISS), provavelmente até 2020. Será que as “chaves” da estaco orbital serão temporariamente conquistadas pelo lançador russo?

A VIDA DE UM CONVIDADO DO COSMÓDROMO

Retorno a Baikonur. Já são quase 18 horas. Remy acaba de terminar sua longa jornada de trabalho para uma terceirizada da Starsen, uma empresa franco-russa que explora comercialmente o lançador Soyuz e da qual a sede social fica em Evry, subúrbio parisiense. O micro-ônibus que esta manhã o levou com seus colegas ao trabalho vem buscá-los para reconduzi-los ao hotel. Depois do banho, Remy, que por ser estrangeiro não tem permissão para dirigir em Baikonur, toma um taxi para ir comer chachliks, espetinhos de cordeiro, em um restaurante da cidade. A refeição lhe custa aproximadamente 1.000 rublos (25 euros), incluindo uma cerveja, um prato principal, sobremesa e café. Para os mais corajosos, a noite continua na discoteca, pois não existem cinemas em Baikonur.

Nos finais de semana, Remy não gasta seu salário com bens de consumo variados. Em Baikonur, uma cidade fora de seu tempo, onde canos antigos distribuem o aquecimento aos imóveis coletivos, as lojas não possuem vitrines e às vezes ficam escondidas em subsolos. Somente o mercadão que permanece aberto a semana toda, exceto as segundas, possibilita fazer compras ao ar livre. Mas Baikonur só tem de fértil o seu nome em cazaque. Não existe agricultura na cidade e mesmo as árvores crescem com dificuldade. A maioria das frutas e legumes vendidos vem do Uzbequistão. Por outro lado, peixes e lagostins pescados no rio Syr-Daria são abundantes.

Para ter o direito de andar pela cidade entre as inúmeras maquetes de misseis ou foguetes, Remy precisou assinar um termo de isenção responsabilidade. Porem, o clima que predomina não inspira passeios: a temperatura pode variar de -30 graus no inverno a +40 graus no verão, com uma taxa de humidade relativa do ar entre 10 e 20%. Os jovens não dão a mínima: eles se agrupam na Arbat, rua de pedestres de 800 metros cercada por diversos bancos públicos.

Somente a rede da Beeline, nome da companhia telefônica local, e uma conexão de internet muito lenta permitem à Remy se comunicar com sua família. Mas de qualquer maneira, o tempo de trabalho no local será reduzido. Embora o visto do Cosmódromo seja válido por um ano, dentro de dois meses e meio Remy volta para sua casa no Tahiti ou parte para trabalhar em Kourou. Lá, ele e encarregado dos procedimentos elétricos do Ariane 5.

SOYUZ EM SINNAMARY

Na Guiana Francesa, Remy não deixa de reencontrar colegas russos que conheceu em Baikonur. “O mundo do espaço é pequeno” ele nos conta. Ainda mais depois que a antiga cooperação franco-russa tomou um novo rumo. Em 30 de junho de 1966, por iniciativa do General de Gaulle, a Franca, por meio do Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES), e a URSS, assinaram um acordo de cooperação para a exploração pacifica do espaço. Foi o primeiro acordo deste gênero para uma nação ocidental. Desde 1996, a empresa franco-russa Starsem, da qual Arianespace é acionista, possui o direito exclusivo de exploração de Soyuz para voos comerciais, e já realizou 21 lançamentos em Baikonur.

Em 19 de julho de 2005, após dois anos de estudos e negociações, o CNES e a Agência Espacial Europeia (ESA) assinam um contrato de desenvolvimento do lançador Soyuz ao Centro Espacial Guianês (CSG). Os desafios desta nova cooperação são recíprocos. Para os europeus, Soyuz permitirá completar a oferta de satélites de tamanho intermediário aos já lançados pelo Ariane 5 e logo pelo Vega, e assim reafirmar sua liderança sobre os voos comerciais. Concretamente, trata-se de reforçar o avanço da Arianespace sobre a concorrência, por exemplo, face ao número 2 do mercado, o International Launch Service (ILS), uma empesa russo-americana que explora o Proton, outro lançador russo.

Um outro passo nessa nova cooperação foi dado em 26 de fevereiro de 2007 quando a primeira pedra da plataforma de lançamento de Soyuz foi colocada, a “Pedra de Gagarin”, proveniente da plataforma de lançamento do cosmódromo de Baikonur, de onde foi lançado para o espaço o famoso astronauta em 1961. A primeira equipe de 14 russos pisou em solo guianês em 24 de julho de 2008. No Hotel du Fleuve em Sinnamary, onde ficam hospedados todos os russos que trabalharam na construção de Soyuz, as pessoas chegavam em grupos de 20 a 30 pessoas por semana ate o final do mês de outubro.

A Agencia espacial federal russa Roscosmos e encarregada da coordenação dos serviços russos em Soyuz: adaptação do lançador para a Guiana Francesa, implantação do sistema de lançamento, da estrutura do pórtico móvel bancos de teste do lançador e da estação de enchimento do andar superior Fregat. Do lado francês, o CNES, coordena o desenvolvimento dos trabalhos e Arianespace é responsável pelos serviços russos assim como pela qualificação operacional da Plataforma de Lançamento Soyuz (ESL).

Os elementos do lançador são transportados de trem do centro espacial de Samara em São Petersburgo, depois embarcados em navios em direção ao porto de Degrad des Cannes. Eles seguem pela rodovia nacional 1 (RN1) para chegar a base de lançamento situada a 18 Km de Sinnamary e a 27 Km de Kourou. Entretanto, é uma nova versão de Soyuz que está sendo desenvolvida na Guiana Francesa. Ela será capaz de colocar em orbita geoestacionária, duas vezes mais toneladas (3 no total) que Baikonur no Cazaquistão ou Plesetsk na Rússia.

A razão deste ganho? A situação privilegiada de Sinnamary, situada na latitude 4,5° norte, contra 54° norte para Baikonur. Próximo ao equador, o lançador russo usará um “efeito de rotação” ligado à velocidade mais elevada de rotação da terra (1.662 Km/h em Sinnamary contra 1.168 em Baikonur). Sua massa na decolagem é de 308 toneladas, sua altura 42,5 metros e comporta 4 andares, sendo sua mistura unicamente constituída de querosene e oxigênio. Um fato notável: as gazes emitidos são equivalentes aos de um avião de linha, que faz de Soyuz um lançador pouco poluente. A nova plataforma de lançamento, adaptada as normas francesas e as especificações de proteção do CSG, foi construído sobre uma superfície de 120 hectares. O custo total do programa Sayuz na Guiana Francesa chega a 409,45 milhões de euros.

Aproximadamente 600 pessoas terão trabalhado no local, dos quais 250 russos, entre os quais 10% executivos. Atualmente Soyuz está pronto para decolar. Entretanto, a data do primeiro lançamento ainda é incerta. O primeiro passageiro do lançador tendo partido com a último Ariane 5 em 26 de novembro de 2010. Quanto aos voos habitados, eles são tecnicamente possíveis na plataforma de lançamento guianesa de Soyuz. Podemos enfim sonhar em ver astronautas na Guiana Francesa?

SINNAMARY, A PEQUENA IRMÃ DE BAIKONUR

Em Sinnamary, a vida dos russos se parece um pouco com aquela de Remy em Baikonur. De pé às 5 horas da manha, os trabalhadores são levados de ônibus ao local de trabalho, menos de meia hora depois. Lá eles passam o dia e voltam por volta das 17 horas ao Hotel du Fleuve. Depois de um banho de piscina e uma ducha, eles são transportados a cada meia hora de micro-ônibus ao centro de Sinnamary. Lá chegando, eles se dirigem à entrada de um dos dois restaurantes que costumam frequentar, o The Kafrine e o Pakira. Os russos recebem por dia, dois ou três tickets restaurante especiais de 10 euros com os quais podem comer no trabalho ou em um desses dois estabelecimentos que fizeram um acordo com Arianespace e o Hotel du Fleuve.

Eles descobrem pratos como peito de pato ou vieiras e adoram as coxas de rã. Eles gostam também dos pratos locais. Mas o principal é que eles representam 80% da minha clientela” nos revela Barbara, a gerente do The Kafrine que aprendeu russo e é chamada de “Barbaruska” pelos clientes. Encontramos no restaurante, diversos objetos trazidos de presente pelos russos, assim como garrafas vodca com o nome de seu proprietário no congelador. O cardápio e traduzido em russo.

Em sua curta estada em Sinnamary, aproximadamente dois ou três meses para os operários e um pouco mais de tempo para os engenheiros, os russos não deixam de aproveitar os charmes da Guiana Francesa, graças a uma empresa voltada para o turismo, Freelance, que os acompanha. Eles gostam principalmente de pescar. Mas se os russos se adaptam bem ao calor guianês, o idioma de Molière continua sendo uma dificuldade para eles, e pouquíssimos trabalhadores falam inglês. Eles recebem no Hotel du Fleuve dois canais de televisão em russo. Do restaurante ao Centro Medico Cirúrgico de Kourou (CMCK) onde são tratados, são permanentemente acompanhados por tradutores, sendo dois para cada trinta pessoas.

CONCORRENTES NA REGIÃO AMAZÔNICA?

Os desafios da cooperação franco-russa na Guiana Francesa se tornam mais claros quando sabemos que no domingo, dia 12 de dezembro de 2010, o vizinho Brasil lançou um foguete experimental no Centro de Lançamento de Alcântara, no estado do Maranhão, nordeste do país (latitude 2,18°S). Esse gigante espera enviar seus próprios satélites ao espaço, em colaboração com a Ucrânia e a China. Consequentemente, novas alianças espaciais estão sempre se formando neste momento atual em que a geopolítica mundial e o funcionamento do nosso mundo interconectado são totalmente dependentes do domínio do espaço…


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